Mesmo vivendo o isolamento social, motivado pela pandemia do novo coronavírus, as aulas e atividades na APAE de Jundiaí não pararam, apenas mudaram de endereço. Ao invés dos alunos participarem das atividades e atendimentos terapêuticos na entidade, os pais estão realizando a estimulação de seus filhos em casa, sob a orientação dos coordenadores, educadores e terapeutas da instituição.
Em casa, as atividades começaram em março e, desde então, os relatos são positivos: pais e filhos se aproximando ainda mais por conta do momento de estudos. “Já vínhamos trabalhando a aproximação da família com o dia a dia dos nossos assistidos. A pandemia intensificou esta proposta e temos recebido muitos relatos de pais sobre o quanto este trabalho, que agora é desenvolvido em casa, vem melhorando o convívio de toda a família”, explicou Camila Mendes, coordenadora de Saúde.
A participação e o interesse da família são fundamentais neste momento de pandemia. “A família vem conseguindo fortalecer ainda mais o vínculo entre pais e filhos. Esta convivência vem ajudando também aos pais que compreendem melhor a necessidade da estimulação e o quanto a sua contribuição nesse processo poderá influenciar positivamente no desenvolvimento do seu filho”, completa Camila. “Na área de saúde, priorizamos o programa de Estimulação Essencial e o Programa de Intervenção Preventiva”, destaca a coordenadora de Saúde.
CUIDADOS NO ATENDIMENTO – A área de Educação Municipal vem recebendo, desde o dia 13 de maio, os pais ou os responsáveis pelos alunos, em horário previamente agendado e seguindo todos os protocolos de segurança. A família é considerada uma parceira importante no processo terapêutico e tem sido uma forte aliada neste momento. “A equipe terapêutica vem produzindo atividades de fácil aplicabilidade e de acordo com a área de atuação. Os atendimentos são quinzenais: reorganizamos os horários, espaço físico e disponibilizamos EPIs para nossos colaboradores para garantir a sua proteção e daqueles que vêm até nós”, explica Tatiana Cruz, coordenadora de Educação.
Os atendimentos são realizados a cada 30 minutos: são 20 minutos para orientação e 10 minutos para higienização do ambiente. “Entregamos as atividades, orientamos e, em casa, os pais nos enviam vídeos e fotos das atividades realizadas: eles estão ainda mais atentos às dificuldades e potencialidades de seus filhos e isso para nós é uma grande vitória”, complementa Tatiana.
Numa das orientações do Programa de Atendimento Complementar, Daiane da Silva contou a história de sua filha, uma menina de nove anos que começou a apresentar dificuldades para ler e escrever, e está, há dois anos, sendo acompanhada na APAE. “Hoje ela está menos agitada e tenho notado mais disposição para as atividades e para estudar”, avalia. “A pandemia nos aproximou. Apesar de tudo que está acontecendo, dentro de casa, seguimos mais amigas e companheiras. A correria do dia a dia não permitia esse contato todo: estou muito feliz com a possibilidade de ajudar ainda mais minha filha”, comenta.
UNIDADE ESCOLAR – De acordo com o diretor Escolar, Edison Marin, as atividades estão sendo planejadas e confeccionadas de acordo com o Currículo Funcional Natural e o PEI – Plano Educacional Individualizado. “Os professores e toda a equipe pedagógica desenvolveram estratégias para enviar as atividades para todos os alunos, com objetivo de manter a qualidade dos serviços oferecidos, de forma diferenciada, devido à necessidade do momento de isolamento social, auxiliar também na organização da rotina diária, reforçar os conteúdos já trabalhados e manter o vínculo entre alunos, famílias e escola”, destaca Edison.
Seguindo um cronograma individualizado, cada família comparece à escola a cada 15 dias para retirar as atividades propostas. “Para aqueles que não puderem comparecer no dia agendado, criamos um canal de comunicação direta, via WhatsApp, com a formação de grupos organizado por sala de aula: enviamos informações, atividades, vídeo aula e orientações pertinentes aos conteúdos que serão trabalhados”, explica.
Uma das mães que vem seguindo esta rotina é Maria Sueli de Camargo. Ela é mãe de Bruno Miguel de Camargo Bittencourt, de 18 anos, e conta que ele conseguiu se adaptar aos estudos em casa, embora sinta muita falta da rotina com os professores e amigos. “Ele já fazia as atividades que vinham como tarefa, mas, agora fazemos toda a estimulação em casa seguindo todas as orientações que recebemos a cada 15 dias na APAE”, explica. “O Bruno sente muita falta da escola, dos amigos, da convivência: ele frequenta a APAE de Jundiaí desde os quatro anos de idade, é uma família pra ele”, complementa, destacando toda a autonomia que ele conquistou em casa, graças à instituição. “Ele arruma sua cama, dobra a roupa que tiro do varal, leva o lixo lá fora, lava a louça, ajuda a cozinhar. Tudo isso ele aprendeu na APAE e trouxe pra casa, para o nosso dia a dia”.
LIVES E DOAÇÕES – Diante da pandemia, a APAE de Jundiaí lançou a campanha “A APAE não pode parar e a sua doação também não”. “Neste momento delicado que estamos enfrentando, nós continuamos trabalhando, em sistema de plantão para orientar e acolher nossos assistidos e suas famílias”, comenta o presidente da APAE, Luiz Bernardo Begiato.
A APAE de Jundiaí, através dos seus programas de atendimento, está mudando a história de vida de 1.700 pessoas com deficiência intelectual e transtorno do espectro do autismo, que são atendidos mensalmente pelos profissionais da instituição. De acordo com Begiato, além das doações que chegavam pelo telemarketing, pizzas, eventos e bazares ajudavam na receita. “Como as ações foram suspensas, a receita advinda destes eventos ficou comprometida”, explica.
De acordo com Suely Angelotti, diretora executiva da instituição, a APAE intensificou sua divulgação via WhatsApp, e-mail marketing, imprensa e nas redes sociais, para reforçar o trabalho da área de captação de recursos. “Estamos reforçando sobre o nosso atendimento e sobre a importância das doações para continuidade do nosso trabalho: a partir do nosso site, disponibilizamos diversas formas de pagamento para facilitar as doações. Neste momento de isolamento, as pessoas podem ajudar sem precisar sair de casa”, explica.
A dificuldade que instituições como a APAE estão enfrentando despertou a empatia das pessoas que, desde o mês de abril, vêm fazendo a diferença na divulgação dos atendimentos. “Até o momento, foram sete lives promovidas por artistas locais que divulgaram o nosso trabalho e as formas de contribuir, além de dois bazares, que direcionaram parte da renda para a entidade”, enumera Suely.
Além dos eventos, a APAE de Jundiaí também recebeu doações em cestas de alimentos do Tenda Atacado, do projeto Mesa Brasil, Rotary Club Jundiaí-Oeste, Lions Club – Distrito LC-2, Associação Rancho ½ Boca e manifestações individuais como a de um grupo de pessoas que movidas pela solidariedade, se uniram para doação de leite em pó para as crianças atendidas pela instituição. “As cestas de alimentos atenderam as famílias em situação de vulnerabilidade, sem renda fixa ou que vivem apenas com benefício do governo e também aquelas que foram impactadas financeiramente devido à crise instalada pela pandemia”, explica a Coordenadora de Assistência Social, Adriana Azevedo. “Estamos acompanhando a necessidade de cada família e, quando necessário, acionamos os CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) da Prefeitura de Jundiaí”, garante Adriana. Além das cestas de alimentos, a APAE de Jundiaí também promoveu, através do atendimento remoto do serviço social, orientação às famílias que atendiam o critério para o benefício “Merenda em Casa” e para aquelas que necessitaram de orientação para acesso ao “Auxílio Emergencial”.
NOVO COMPUTADOR – Em maio, a APAE de Jundiaí ganhou um kit de computador numa ação promovida pela Federação das APAES do Estado de São Paulo. O Conselho Regional é representado pela APAE de Várzea Paulista cuja região é composta pelas cidades de Atibaia, Bragança Paulista, Caieiras, Cajamar, Campo Limpo Paulista, Francisco Morato, Franco da Rocha, Itatiba, Jarinu, Jundiaí, Louveira, Mairiporã, Morungaba, Pinhalzinho, Piracaia, Socorro e Valinhos. A única que não participou da entrega dos computadores foi a de Franco da Rocha, que justificou sua ausência. Em todo o Estado, foram 303 computadores comprados para atender todas as APAEs filiadas à FEAPAES-SP.
O kit de computador inclui CPU, monitor, teclado, mouse e webcam. Para a diretora executiva da APAE de Jundiaí, Suely Angelotti, que tem participado das lives e reuniões on-line com a Federação, o novo equipamento vai ajudar bastante. “Um equipamento novo e de última geração fará toda a diferença para acompanharmos as reuniões e encontros que estão sendo realizados on-line, neste período de pandemia”, destaca.